
Na virada do século, a Inglaterra – assim como o resto da Europa – viveu a ‘bolha do futebol’. Encantados com o crescente faturamento, clubes de todos os portes começaram a gastar fortunas em contratações. Jogadores não mais que medianos eram trazidos por € 10 milhões ou mais. Claro que a farra não podia durar muito: quando a bolha estourou, vários clubes pequenos quase faliram, os médios enxugaram os elencos e os grandes redimensionaram os gastos.
Pois eis que agora, em 2007, a Inglaterra parece viver uma nova bolha no mercado de transferências. Neste verão, os clubes da Premier League já torraram mais de € 300 milhões em contratações. O valor é superior ao gasto na pré-temporada passada – e isso porque ainda falta mais de um mês para o fechamento da janela de transferências.
Apesar de todo esse dinheiro ter sido gasto, não dá para falar que grandes craques do futebol mundial chegaram ao país. Até agora, os nomes mais famosos contratados são Claudio Pizarro, Florent Malouda, Fernando Torres, Owen Hargreaves e Darren Bent. Todos são bons jogadores, com certeza, mas nenhum é um daqueles cracaços capaz de mudar o equilíbrio de forças em um campeonato.
Então, para onde foi toda essa grana? É aí que notamos que realmente está havendo uma nova ‘bolha’ do futebol. O West Ham, por exemplo, gastou € 30 milhões para contratar Scott Parker, Julien Faubert e Craig Bellamy. Já o Tottenham torrou € 44 milhões em Gareth Bale, Darren Bent e Younes Kaboul. Note que nos dois exemplos nem citamos os times ricaços, como Chelsea, Liverpool e Manchester United.
Há dois fatores que se somaram, para explicar toda essa gastança. Um é a entrada em vigor, na próxima temporada, do novo contrato de transmissão dos jogos da Premier League. Com ele, cada clube da primeira divisão vai ganhar no mínimo € 90 milhões por temporada – e olha que estamos falando só dos direitos de TV, para os menores clubes do país. Onde sobra dinheiro, os dirigentes acabam esbanjando.
Outro fator é que há muitos times querendo ‘subir de patamar’ nesta temporada. O Tottenham e o West Ham, citados acima, são dois exemplos. O Liverpool, cujos gastos deverão superar € 50 milhões, é outro que gasta muito, para tentar alcançar Chelsea e Manchester United. Por fim, os times de José Mourinho e Alex Ferguson, tradicionais gastadores, também abriram a carteira, sonhando com o título da Liga dos Campeões, e torraram, até agora, € 90 milhões.
O problema não são os nomes contratados nem os valores por si só – mas sim os montantes pagos por nomes, digamos, de segunda linha. A diferença de hoje para a ‘bolha’ do início da década é que a gastança é sustentável, pois está lastreada no novo contrato de TV. Só há perigo sério para os times rebaixados, que vão ficar sem a grana na Segundona. Mas, mesmo para os mais ricos, há que se lamentar a chance perdida. Afinal, torrar € 300 milhões e não trazer ninguém melhor que Fernando Torres é dose.
É hora de rever a temporada (parte 6)Chegamos à penúltima parte de nosso balanço da temporada 2006/7. Nesta semana, analisamos o desempenho de Reading, Sheffield United e Tottenham.
ReadingDestaque: Nicky Shorey
Classificação final: 8º lugar (55 pontos)
FA Cup: eliminado nas oitavas-de-final pelo Manchester United
League Cup: eliminado na terceira fase pelo Liverpool
Contrariando as previsões, o Reading conseguiu repetir o feito do Wigan na temporada anterior e, logo em seu primeiro ano na Premier League, alcançou um respeitável oitavo lugar. Aliás, não só ficou em oitavo como passou o campeonato inteiro (com exceção de duas rodadas) na metade de cima da tabela.
Em alguns momentos, os Royals ainda deram pinta de que poderiam até brigar por uma vaga na Copa Uefa. Mas as rodadas finais provaram que isso já seria demais – e, para um time tão pequeno, poderia ser até prejudicial para a próxima temporada.
Em resumo, 2006/7 foi uma estréia excepcional para o Reading na Premier League – não dava para sonhar com nada melhor. Mas o verdadeiro desafio virá na próxima temporada. Afinal, superar o oitavo lugar será tarefa praticamente impossível. Como evitar o desânimo e não repetir novamente o Wigan, que passou sua segunda temporada lutando contra o rebaixamento?
Nota da temporada: 8
Sheffield UnitedDestaque: Phil Jagielka
Classificação final: 18º lugar (38 pontos – rebaixado para a segunda divisão)
FA Cup: eliminado na terceira fase pelo Swansea (3ª divisão)
League Cup: eliminado na terceira fase pelo Birmingham (2ª divisão)
Não deu para o Sheffield United. A vida de equipes recém-promovidas é dura, e com os Blades não foi diferente. O time até que fez campanha digna, mas, no final, a fragilidade do elenco se fez sentir, e o time foi rebaixado.
A equipe começou mal o campeonato e logo entrou na zona de rebaixamento. No entanto, por volta de dezembro, o Sheffield achou seu ritmo e mostrou que tinha condições de se salvar. Entre a 16ª e a 31ª rodada – ou seja, quase metade do campeonato –, a equipe ficou fora da zona de rebaixamento. Na última rodada, bastava um empate com o Wigan para garantir a permanência na primeira divisão, mas o Sheffield acabou derrotado, por 2 a 1.
Com tudo isso, daria para dizer que o Sheffield caiu de cabeça erguida. O problema é que, além da amarelada na última rodada, também manchou a reputação dos Blades a choradeira e a ida ao tapetão para tentar tirar pontos do West Ham. Embora os Blades até tivessem razão, deveriam ter mantido a dignidade e fechado o bico, já que estava claro que não conseguiriam mesmo rebaixar os Hammers no tapetão.
Nota da temporada: 4
TottenhamDestaque: Ledley King
Classificação final: 5º lugar (60 pontos – classificado para a Copa Uefa)
Resultados na Europa: eliminado nas quartas-de-final da Copa Uefa pelo Sevilla (Espanha)
FA Cup: eliminado nas quartas-de-final pelo Chelsea
League Cup: eliminado nas semifinais pelo Tottenham
É impressionante como um time pode conseguir o mesmo resultado dois anos seguidos e ter sensações totalmente diferentes. Em 2005/6, o Tottenham ficou em quinto e considerou um excelente resultado. Em 2006/7, os Spurs repetiram a colocação, mas terminaram a temporada decepcionados.
Além da diferença de cinco pontos ganhos entre as duas campanhas, a sensação de desapontamento explica-se pelo desenvolvimento da temporada do time. O Tottenham começou mal o campeonato e chegou a ficar em 17º lugar, na sexta rodada. Depois disso, o time foi melhorando aos poucos, mas só engrenou mesmo no último terço da competição, quando venceu oito de suas 12 últimas partidas (com apenas uma derrota no período). Ou seja, o time ficou em quinto, mas ao contrário de 2005/6, nunca chegou a sonhar com uma vaga na Liga dos Campeões.
Outra decepção do Tottenham foi o desempenho na Copa Uefa. Não que tenha sido desastroso: os Spurs foram até as quartas-de-final e perderam para o campeão Sevilla. Mas se esperava mais do time, que até sonhava com o título. Na verdade, a Copa Uefa é uma boa síntese do que foi a temporada toda do Tottenham – não foi um vexame, mas também teve poucos motivos para comemorações.
Nota da temporada: 5